D. Albino: Homília na Abertura do Ano Sacerdotal

03-07-2009 17:03

 

Homília na Abertura do Ano Sacerdotal

Celebração das Ordenações Sacerdotais

 

- “Simão, tu amas-me?”

- “Senhor, Tu sabes que Te amo ”.

Então Jesus disse-lhe: “Apascenta os meus cordeiros…Apascenta as minhas ovelhas”.

Esta foi a vocação que Jesus definiu a Pedro: Ser Pastor do povo de Deus, tornando-O assim presente a Ele, o próprio Senhor Jesus, que se proclamou como “o Bom Pastor…”.

Ainda bem que de modo diverso, também Paulo foi chamado para idêntica tarefa, que Deus tanto preza: cuidar dos filhos que Ele criou, os homens e mulheres de todos os tempos e lugares. São palavras do Apóstolo: “Aquele que me destinou desde o seio materno e me chamou pela sua graça, dignou-se revelar em mim o seu Filho para que eu o anunciasse aos gentios”.

Estas palavras sagradas, ouvidas por quem vai ser constituído sacerdote e também por quem será feito diácono, quero tomá-las como pórtico de um ano que o Santo Padre nos propôs como ano dedicado ao Sacerdócio.

Meditemo-las todos nós, Bispos e presbíteros, ungidos como sacerdotes do Senhor. Escutai-as todos vós, consagrados ou leigos que, pelo baptismo, sois participantes da missão sacerdotal de Jesus.

Somos no mundo, em nossas terras e nos dias que vivemos, a presença do sacerdócio de Jesus.

Retomo as palavras do Divino Mestre, ditas a Pedro e reveladas a Paulo: “Apascenta as minhas ovelhas”. “Vai anunciar aos gentios…”.

Ser sacerdote é ser pastor.

Ser sacerdote é ser profeta.

Não era assim com o povo da Antiga Aliança, onde estas tarefas sagradas estavam divididas por pessoas diferentes: pelo Pontífice, pelo Rei, pelo Profeta.

Em Jesus não se podem separar. E no povo sacerdotal que somos, vivendo harmoniosamente a diversidade de ministérios, torna-se hoje urgente que realizemos o sacerdócio preocupando-nos, acima de tudo, em sermos anunciadores e pastores dedicados.

Certamente que o ano vai ser fecundo em reflexão, em estudos sobre o sacerdócio católico, em análises sobre as causas da falta de vocações, em propostas sobre o perfil do sacerdote no mundo de hoje. Todavia, irmão, ao inaugurar este ano que o Santo Padre nos propõe, decerto iluminado pelo Espírito Santo, a minha oração, os meus votos, o meu rogo à Diocese de Coimbra, desejo formulá-los talvez diferentemente: Que ele seja um ano de frutos, de bons frutos.

Não permitais, Senhor, que ele decorra apenas como ano de palavras e gestos, mas seja um ano de bênção para a Diocese e para toda a Igreja.

E que frutos rogamos ao Senhor?

Pedimos-Lhe a graça de sermos corajosamente anunciadores como Paulo, sacrificadamente pastores como Pedro.

De verdade e na mais correcta das intenções, alguns desvios podem trair-nos na vivência do ano e seja-me permitido alertar-vos para dois.

O primeiro seria transformar o ano em jornada de elogios e exaltações dos nossos padres, centrando neles todas as iniciativas e as nossas orações.

Estaremos gratos por tudo o que por nós se fizer, sobretudo as preces pela nossa santificação. Mas o que nós, sacerdotes, mais pedimos e agradecemos ao povo do Senhor é que os fiéis nos acompanhem no motivo, na paixão que nos levou a sermos sacerdotes. Foi a paixão de Jesus ao olhar para as multidões: “São como ovelhas sem pastor…” “Pedi ao Senhor da messe que mande operários…”.

Tocados na alma por estas palavras divinas, sentimo-nos chamados para a messe e viemos…

Hoje, a messe apresenta-se de novo à espera de trabalhadores. A Diocese de Coimbra, que respira como as demais os ares de uma Europa descristianizada, é o horizonte em que decorre para nós o ano sacerdotal. Só aqueles que sentirem ao seu redor a urgência da evangelização, só esses viverão em profundidade o ano sacerdotal. E sois vós todos, baptizados que me ouvis, sois todos vós, ó membros deste povo sacerdotal que haveis de sofrer connosco a urgência deste anúncio.

 Compreendereis então que a dar a maior alegria que podeis dar a um padre é apoiá-lo, acompanhá-lo, continuá-lo nos trabalhos apostólicos da edificação do Reino. Não são trabalhos dele, são de todos nós, corpo de Cristo.

O segundo desvio que importa evitar é o de nos determos na intimidade dos nossos templos, levando o padre a ocupar seu tempo e a sua criatividade quase só nas acções sacramentais e litúrgicas, argumentando que é esse o seu ministério. Como se o sacerdócio de Jesus se confinasse à oração, aos sacramentos, ao louvor litúrgico.

Na verdade, o mesmo Senhor Jesus que determinou “Fazei isto em memória de Mim” é agora quem diz a Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas”.

A liturgia, mormente a celebração eucarística, são o coração da Igreja. Mas de que serviria um coração a pulsar num corpo sem vida?

O ano sacerdotal será, pois, um ano a contemplar o sacerdote único e eterno que é o Senhor Jesus. Dele nos vem a missão, que é glória, de O tornarmos presente no mundo em que vivemos. Com Ele, por Ele e n’Ele seremos o povo sacerdotal que reza por este mundo, glorifica o Criador que lhe deu vida, se oferece como vítima pelos pecados da terra, proclama a verdade evangélica e torna presente a Ressurreição, povo sacerdotal, que, como pastor, congrega os homens na paz e lava os pés aos que sofrem.

Eis o que os nossos padres nos desejam ensinar, com as suas palavras e coma sua vida. Para que assim aconteça e aumente o seu número, para que eles sejam santos, rezai por eles; rezemos nós, também, uns pelos outros.

Seja esta uma oração constante em todos os dias do ano e particularmente na primeira Quinta-feira de cada mês, dia em que todas as paróquias da diocese hão-de adorar o Senhor, se possível solenemente exposto, a fim de lhe pedir também a graça de mais vocações.

Chegarão em breve ao conhecimento da Diocese outras iniciativas e sugestões para a celebração do ano. Que elas concorram para merecermos a bênção de sermos uma Diocese apostólica, em que viva esta verdade: o padre é dado à Igreja porque a Igreja é enviada ao mundo.

Queridos jovens que agora ides receber os dons do Espírito Santo que vos tornarão a um de vós, Presbítero, e a outro, Diácono:

Não tenhais medo da pergunta de Jesus, que Ele também vos dirige:

-“Amas-me mais do que a estes?”

Alegrai-vos, que foi Ele quem primeiro vos amou e vos chamou, como a Paulo, desde o seio materno. Com a sua graça e para nosso regozijo, respondei:

-“Sim, ó Senhor. Vós que sabeis tudo bem, conheceis o nosso amor”.

Coimbra, 28 de Junho de 2009

 

+ Albino Mamede Cleto

Bispo de Coimbra

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