Carapinheira festeja a Padroeira

15-07-2009 10:53

 

 Carapinheira festeja a Padroeira

 

A comunidade cristã da paróquia da Carapinheira vai festejar a sua padroeira, Santa Suzana, nos dias 7, 8, 9 e 11 de Agosto.

A festa à padroeira tem realização irregular, mas nunca deixou de ser venerada, no dia 11 de Agosto, com a celebração da Eucaristia e sermão, em seu louvor. Durante largos anos, o sermão desta festividade foi proferido, com eloquência, pelo padre Daniel Correia Rama, grande devoto de Santa Suzana. Exaltada pela Igreja Católica a 11 de Agosto, a festa em honra de Santa Suzana foi “superada” pela festividade de Nossa Senhora das Dores, há mais de dois séculos.

Este ano, o conselho económico da paróquia, presidido “in solido” pelos padres José Luís Ferreira e António Domingues, com a colaboração de uma equipa de paroquianos, vai levar a efeito a realização de uma festa à Padroeira, cujo programa popular tem lugar no Pavilhão Multiusos da Carapinheira, visando a angariação de fundos para fazer face às obras de recuperação e beneficiação da Igreja Matriz.

A celebração da Eucaristia e a procissão, dia 9, assim como a missa em seu louvor, dia 11, são os momentos altos de veneração a Santa Suzana. O programa festivo começa dia 7, pelas 22h00, com um baile abrilhantado pelo grupo D’Arpa e Dança, durante o qual se realizará um leilão; dia 8, pelas 20h00, será celebrada a missa vespertina, seguindo-se, pelas 22h00, “Chá com Teatro e Música”, com actuação da Orquestra Ligeira da Carapinheira e do fadista Mickael Salgado, com leilão de ofertas; dia 9, pelas 15h00, haverá a celebração da Eucaristia, seguida de Procissão, no final terá lugar um leilão e actuação do Grupo Folclórico da Carapinheira; a festividade termina, dia 11, dia da padroeira, com uma missa solene, pelas 20h00.

 

A Padroeira

 

Suzana é nome de origem hebraica e significa “lírio”. O livro de Daniel refere-se ao martírio da sua pureza. O martirológio jeronimiano refere, a 11 de Agosto: “Em Roma, nas Duas Casas, perto das termas de Diocleciano, a morte de Santa Suzana”.

A jovem Susana recusou uma proposta de casamento com um homem não crente (Maxêncio Galério, herdeiro do império romano), não somente porque era cristã, mas também porque havia tomado o voto de virgindade, num compromisso com Cristo. Quando Diocleciano, o imperador, tomou conhecimento da recusa de Susana, sua prima, e as suas razões, ficou profundamente irado e ordenou a sua execução. Um pelotão de soldados foi a sua casa e ela foi decapitada, no ano 293.

Santa Suzana é padroeira da Carapinheira desde há mais de quatro séculos, aquando da construção da actual igreja (1571), e cuja imagem, “muito milagrosa”, veio da primitiva igreja, edificada próximo da Quinta de Malta, morgadio e Logo da Ribeira dos Moinhos.

 

O Padre Daniel Correia Rama, devoto de Santa Suzana

 

Natural da Carapinheira, o Padre Daniel Correia Rama, nasceu no lugar dos Nobrezos, dia 14 de Dezembro de 1902, filho de António Correia Rama e de Maria da Encarnação Alves Simões. Foi baptizado no dia 27 de Dezembro do mesmo ano, na paróquia de Santa Suzana da Carapinheira, pelo padre coadjutor José Pinho Simões. Após os seus estudos para o ministério sacerdotal, foi ordenado diácono no dia 7 de Março de 1925. Logo em 26 de Julho do mesmo ano, dia do Sagrado Coração de Jesus, foi ordenado presbítero, na Sé Catedral de Coimbra, pelo bispo-conde D. Manuel Luís Coelho da Silva. Celebrou a sua “Missa Nova” em dia de Santa Suzana de 1925, com sermão em louvor da Padroeira, ritual que fez durante cerca de 50 anos, por extrema devoção a Santa Suzana. Também nutria peculiar veneração por Nossa Senhora das Dores, sua 'madrinha' de baptismo. Nomeado pároco da freguesia de S. Pedro de Aradas, Aveiro, tomou posse do seu ministério no dia 8 de Setembro desse ano, como refere a acta de tomada de posse: “Aos oito dias do mês de Setembro do ano de mil nove centos e vinte e cinco, pelas nove horas da manhã, na Igreja paroquial desta freguesia de São Pedro das Aradas, sendo ali, na qualidade de delegado de S. Exa. Reverendíssima o Sr. D. Manuel, Bispo desta diocese de Coimbra, em minha presença compareceu acompanhado das testemunhas abaixo assinadas, o Reverendo Padre Daniel Correia Rama, Pároco desta freguesia, nomeado por Provisão (decreto) de S. Exa. Reverendíssima de oito de Agosto de mil nove centos e vinte e cinco e em acto seguinte procedi à leitura da referida Provisão (decreto) e introduzi o Reverendo nomeado na posse desta freguesia, observando o cerimonial prescrito. E para constar lavrei esta acta que assino com o novo Pároco e testemunhas designadas”. Seguem-se as assinaturas: Padre Daniel Correia Rama, Manoel Sarrico Deus, Manoel Dias Pereira, Manoel Lopes do Casal, Augusto Gonçalves Andril, Manoel Mendes Leal, Manoel Nunes Bastos, José Maria Rezende Bastos, Abel João Branco, Joze da Cruz Garrido, Manoel de Matos Ferreira, Manoel Nunes da Rocha, O Delegado, Padre João Pinto Rachão”.

Pastoreou esta freguesia, com o epíteto de “vigário”, até 20 de Maio de 1975, data em que foi substituído pelo reverendo padre Júlio da Rocha Rodrigues. Cerca do início da década de 1970, atendendo à sua idade avançada, ao estado precário da sua saúde e ao facto de a população da freguesia ter crescido muito, o Bispo de Aveiro, D. Manuel de Almeida Trindade, decidiu dar-lhe um coadjutor, o jovem padre Augusto Marques da Costa.

Embora aposentado, o Conselho Paroquial da Igreja de Aradas continuou a dar-lhe residência e um contributo financeiro para sua sustentação. Todavia, algumas vicissitudes, aliadas ao seu estado debilitado pela idade avançada, o vigário pediu o beneplácito para regressar à sua terra natal, para viver com uma sua irmã conforme reza a acta do Conselho Paroquial de 5 de Outubro de 1977, da qual transcrevemos o excerto “ (…) Disse o Conselho Paroquial, através de intervenções de alguns dos seus membros, que, no plano humano, compreendia perfeitamente a sua vontade de se juntar aos seus familiares de sangue e que o Senhor Vigário, como homem livre que era, tinha o pleno direito de decidir da sua vida como melhor entendesse (…) Foi-lhe também chamada a atenção para a necessidade e conveniência de se despedir da Comunidade Paroquial, explicando-lhe os motivos da sua atitude. O Senhor Vigário concordou com esta ideia, tendo ficado combinado que alguém o iria buscar no próximo dia quinze do corrente, a fim de, às missas desse dia e do dia seguinte, falar ao Povo. Assentes estes pontos, o Conselho, frisando de novo a tristeza de o ver partir, declarou solenemente ao Senhor Vigário que, embora se mudasse agora para casa de sua irmã, teria sempre o seu lugar em aberto na nossa Casa Paroquial e que seria com muita alegria que o teríamos entre nós sempre e em qualquer altura que para cá quisesse voltar, quer de visita passageira quer a título definitivo. Foi ainda decidido por unanimidade, e disso dado conhecimento ao Senhor Vigário, que enquanto vivesse e onde quer que estivesse, o Conselho Paroquial faria chegar até ele o valor da pensão de velhice que em decisões anteriores já lhe fora atribuída (pensão essa que acrescenta às outras que recebe doutras proveniências) em reconhecimento dos altos serviços prestados à Paróquia ao longo de mais de cinquenta anos, o que nunca poderá, nem deverá, ser esquecido por todos os que com ele tiveram a honra de conviver (…).

Em finais de Outubro de 1977, o senhor Vigário já estava na Carapinheira, onde viria a falecer, por doença e “algum desgosto”, mas por ironia do destino, no dia de Santa Suzana de 1978, ficando em câmara ardente na capela de Santo Amaro. Grande parte dos seus paroquianos de Aradas deslocou-se à Carapinheira e, com permissão dos familiares, levaram o corpo do senhor vigário para Aradas, onde se realizou o funeral. A Junta de Freguesia de Aradas, então da presidência de Manuel Simões Madaíl, homenageou-lhe a memória ao dar o seu nome a uma rua e mandando executar a campa em que está sepultado no cemitério daquela freguesia.

 AA

 

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