A Igreja

 

A Igreja de Santa Susana da Carapinheira

 

O início da edificação da actual Igreja Matriz de Santa Susana da Carapinheira teria ocorrido antes de 1571, no local onde hoje se encontra. Atesta este facto, o cura da Carapinheira, licenciado André Roiz Carreiras, nas ‘Memórias Paroquiais’ de 1721, em juramento “in verbo sacerdotis”: “(...) a igreja parochial he padroeyra Santa Suzana foi edificada no lugar da Carapinheira a sento e sinquenta annos (1571). Antes disso já era freguezia de que era Padroeyro Sam Payo, estava situada na Ribeyra dos Moinhos dentro de húa quinta da Malta, sujeita à Comenda da Santa Maria de Enxumil, não se pode com clareza saber o princípio de sua edifïcassão na dita quinta e q. dali se mudara por crescer mais o povo onde hoje está edificado... há três sepulturas particulares, húa de Rodrigo Affonso, outra de Domingos Vás Frade e outra de Maria Vaz - a sepultura de Rodrigo Affonso he da primeira fundação da igreja que foi feita a sento e sinquenta annos para elle e seus herdeyros consedendose-lhe por dar a terra para a igreja e adro, q. pella não ter no monte a deu no campo por ella - a sepultura de Domingos Vás Frade e Maria Vaz se lhe deu por mandarem vir o Breve para se mudar a Igreja (…)

Antigos pergaminhos referem que o novo templo ficou inacabado, sem a capela-mor e que, com o decorrer dos tempos, ia ficando pequeno dado “o concurso de fregueses”. Assim, a igreja foi sofrendo alterações: ampliação, conservação, melhora­mentos.

O processo de edificação da capela-mor inicia-se a 23 de Abril de 1733 com uma petição enviada ao Bispo de Coimbra pelo juiz da igreja, João Ro­drigues Caldeira, com o aval dos outros fabriqueiros: António Simões Ribeiro, Bernardo da Costa e Manuel Nunes Arriaga, na sequência das visitações de 1720 e 1729 que atestam a necessidade da construção da capela-mor, mas não existir disponibilidades fi­nanceiras para o efeito uma vez que os dízimos e prestimónios eram recebidos e não se cumpriam obrigações à igreja.

A visita efectuada em 1720, pelo reverendo Manoel Soeiro de Almeida, revela a obrigação de edificar a capela mor, dizendo “(…) acha-se esta igrª com bast.e grandeza e feita à custa dos freg.es, o q. hé m.to pª louvar, hé precizo dar-se princípio a obra da Capella Mor, pello q. mando ao rendeiro q. cobra do prez.te osfructos a mesma igrª pertencentes e aos dos prestimónios aquém também pertense a reedificação da capella mor no prez.te cazo, ponhão a lanço a dª obra e árematasão aquém com mais perfeisão e com mais comodo a fizer, conformandose com o corpo da mesma igrª de q. darão comprim.to em termo de dês meses, sob penna de dois mil reis(...)”(Instituições Pias, Bispado de Coimbra –AUC).

Numa outra visitação de 1729, o Dr. Sebastião Antunes exarou a seguinte informação: (…) no temporal achei hú capp° f eito pello vizitador meu antecessor no qual com m.ta razão ordenava se fizese a Capella Maior, puzesse a pregão e se arrematasse aquem com mais comodo afizesse q. o rendeiro q. cobra a renda dos Prestimonios concorresse pª os gastos da Capella, dando conta disto ao fabricario, q. a isto he obriga.do athé o prez.te veio senão tem posto em excussão, estando nesta p.te a igrª com m.ta imperfeisào, pello q. ordeno q.o R.° Parrocho desta Igrª fassa aviso ao fabricario della reprezentandolhe a grande necessid.e q. há desta obra, porq.to dentro de trez mezes de princípio a ella q. fiz em avizo q. se lhe fiz, nào faltará ao q. se lhe pede, e quando no dº tempo o não fassa, dá resposta q. mandar dará conta à Meza pª nella se deferir o q. for justificasão (... ) (Instituições Pias, AUC).

O não cumprimento das obrigações, constam de uma nova informação enviada ao Promotor do Bispado de Coimbra, em 22 de Abril de 1773, pelo cura António Jorge Matos, nos seguintes termos: “(…) os pobres moradores desta freguesia com suas esmolas e asistensias do mais necesario, fizerão esta Igrª com bastante grandeza, na qual se celebrão os officios Divinos desde o anno de 1579(?) a esta parte e achase ainda necesítada de m.as couzas pª mais perfeissão da dª obra q. por imposibilide não fazem por andarem todos arastados e pobres pellas m.as perdas q. tem tido neste campo, e asim se acha feita a dª obra desde o anno sem capelÍa Mor; noq. tem m.ª imperfeisão pello q. tem havido muitas queixas deste povo em vezita de q. ficarão os capp.os incluzos de q. não rezultou thé o prez.te couza algúa, ouvirem desta fregª m.tos quei¬xosos de estarem pagando os seis Dízi-mos, e não concorrem as pessoas q. os recebem com o necessário, e precizo pª assistª do Culto Divino, cuja obrigação pertense ao Ill mo Bispo de Lamego q. D.s haja e o R.do Prior da Igrª de S. Miguel da Vª de Montemor-o-Vº de quem esta Igrª hé anexa os quais são obrigados a mandar fazer a dª capella mor com q. cada hum persebe osfructos porq.to de nove alq.res de pão pertence ao R.mo Cabb° 3 alq.es e dos 6 q. ficam sam 2 pª o R.do prior e os 4 q. ficão pª quem cobrar arrenda dos prestimónios e assim devem concorrer com os gastos pella mesma forma de partilha(...). (Instituições Pias –AUC).

As diferentes obras e intervenções ao longo dos séculos, nomeadamente em 1720, 1739 e 1799, ‘construíram’ um espaçoso templo, a maior igreja de uma só nave em terras do Baixo-Mondego. A fachada principal é traçada em linhas neoclássicas e sobre o portal de frontão curvo está a janela do corpo com cornija em ângulo rematado por óculo central elevado acima da linha do telhado. A torre sineira à esquerda com as ventanas, sinos e o relógio é obra conduza em 1830 aquando das reformas do corpo e capela mor da igreja. O interior é amplo, simples e nela se encontram o altar-mor e os colaterais dedicados a Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Graça e Nossa Senhora do Rosário. Ladeando o altar-mor está a Imagem da Padroeira, Santa Susana e de Nossa Senhora da Conceição. Nas paredes laterais estão as imagens escultóricas de Santa Luzia, S. Francisco, S. Sebastião e S. António, um painel da padroeira, apeado do altar-mor, e os quadros da Via-sacra. O coro alto, com acesso interior sobre o Baptistério, fica sobre o tapa-vento. Numa pequena capela à entrada, do lado esquerdo do tapa-vento, está a Pia Baptismal de pedra decorada, do Séc. XVIII. (Inventário Artístico de Coimbra, 1953).

No corpo da igreja, do lado do Evangelho, está o púlpito, e rasgam-se duas capelas: a Capela das Almas, também conhecida por Capela do Senhor Morto, a seguir à entrada para o coro alto, cujo retábulo é um painel em baixo-relevo mostrando o “Julgamento Final”; na banqueta do altar encontra-se a imagem “ Senhor Morto”. Ainda do lado esquerdo, depois do altar de Nossa Senhora do Rosário, está a capela do Santíssimo Sacramento, com arco e abóbada de carteias em pedra do Séc. XVII e retábulo barroco. O tecto desta capela é antigo “o qual era de cantaria composta de 12 florões em relevo imulduras da mesma cantaria...” e é proveniente de uma antiga capela de Nossa Senhora Ágoa de Lupe da Póvoa de Santa Cristina. O retábulo foi comprado em Coimbra e a pintura e douramento realizou-a António Elyseu pela quantia de 18$000 (dezoito mil réis)”. (Francisco Correia Lopes – Carapinheira).

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