Nossa Senhora das Dores

 

Nossa Senhora das Dores

 

Acreditando nas ‘Memórias’ de Francisco Correia Lopes, descritas numa pagela editada em 1899, a primeira festa realizada em louvor de Nossa Senhora das Dores ocorreu a 4 de Janeiro de 1789, domingo, aquando da entronização da Imagem da Virgem Maria no seu altar, na Igreja Paroquial de Santa Suzana de Carapinheira.

Embora seja Santa Susana a padroeira da paróquia, também festejada com fervor, a festividade religiosa em honra de Nossa Senhora das Dores é, sem dúvida, a mais marcante para esta comunidade. A devoção à Virgem Maria, em terras mondeguinas, emerge de tempos imemoriais. Na Carapinheira, o culto a Nossa Senhora intensificou-se nos finais do século XVIII. Francisco Correia Lopes, em 1889, descreveu, deste modo, a devoção e a primeira festa realizada em honra de Nossa Senhora das Dores: “No anno de 1788 desejando este povo ter na sua egreja uma imagem que lhe representasse a Mãe de Deus nas angustiosas dôres da morte de seu muito amado Filho, deliberaram ir um dos devotos com o parocho, então cura, o padre José da Costa e Silva, e foram a Coimbra ao convento da Santo Antonio da Estrella, por que ahi havia um frade que além da missa e ser pregador, se dedicava ás bellas artes, de pintura e esculptura, sendo especialista em quadros e imagens religiosas e lhe encommendaram a imagem, que é de tamanho natural duma mulher regular e é de vestir; as suas feições são com tanta naturalidade e belleza, que nem a afflição de chorar e com as lagrimas a resvalar pelo rosto abaixo, lhe fazem perder o bello das suas feições, tão naturaes e com tanta sabedoria ellas foram traçadas; tem a cara um pouco levantada e os olhos inclinados ao céo como supplicando; é de uma devoção a quem a vê, inexplicavel, e parece inspirar no coração dos fieis a crença de que ella está viva para os ouvir e attender (...) Todas as despezas do seu feitio, sete setas (ou espadas) diadema, roupas compradas e mandadas fazer, foram pagas a titulo de esmolas por aqueles serviços, e também veio benta pelo superior do mesmo convento; (...) Teve collocação no seu altar n'esta egreja, com a sua primeira festa no dia 4 de Janeiro de 1789, fez portanto, a 4 de Janeiro de 1889, 110 anos n'esta egreja a sua primeira festa foi com alegria como era muito natural, mas foi modesta attentas as muitas outras despesas que haviam feito, havendo só missa cantada e sermão que se pagou por 1$600 reis apezar do orador vir de Coimbra, e com uma dúzia de foguetes que custaram 1$200 reis. (...) a devoção com a Senhora das Dôres n'esta freguezia tem augmentado e feito elevar a sua festa a tal ponto de luxo que difficil será imital-a em terra alguma d'este districto de Coimbra; e, mesmo em Coimbra-----, só a excede a festa da Rainha Santa, o que não admira, por que lá dispõem de todos os elementos de que precisam para o luxo e grandeza, tendo a coadjuval-a todas as corporações civis e religiosas de todas as freguezias da cidade na sua procissão; e nós aqui servimo-nos só com o nosso pessoal e objectos; por isso é mais para admirar aqui a grandeza d'esta festa do que em Coimbra a da Rainha Santa. (...) ”

Naquela data, Francisco Correia Lopes refere que a festa nunca teve interrupção, realizando-se no último domingo de Agosto ou por motivo inesperado no princípio de Setembro. Por volta do início da segunda metade do séc. XX, a festa começou a ter realização bienal, no penúltimo domingo de Agosto, apesar do dia litúrgico dedicado a Nossa Senhora das Dores ser o dia 15 de Setembro.

Porém, a realização das festas no penúltimo domingo de Agosto teve e tem o propósito de receber o maior número possível de carapinheirenses ausentes da sua terra, mas que nesta época demandam a sua terra natal para conviver com familiares e amigos e agradecer à Virgem Maria as graças alcançadas.

A festa em honra de Nossa Senhora das Dores capricha pelos actos religiosos (a essência da festividade) - novenas, missas, prédicas, reconciliação e procissões - de preparação para o grande dia festivo e, na semana seguinte, as tradicionais manifestações populares com touradas à vara larga, folclore, bailes, variedades e actuação de artistas, sem faltar a quermesse e as típicas "tasquinhas".

 

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