Saber orar

14-07-2009 09:47

Oração e orante devem complementar-se. A oração deve ter conteúdo e o orante deve ‘saber orar’. Crença, humildade e sinceridade são motivos ‘exigidos’ para uma boa oração.

No que tange ao conteúdo requer-se que ‘se peçam coisas boas para si e para os outros’. As graças sobrenaturais, apenas devem solicitar-se na medida em que possam cooperar na própria santificação e salvação eterna, e também benefícios temporais. Cristo não colocou limites ao ordenar que sempre se rezasse, mas deixou-nos esta directriz: "Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo" (Mt 6,33). Bens necessários para a vida são, por exemplo, a saúde, o dinheiro para o próprio sustento e da família, o êxito nos negócios e profissões, mas, em tudo, visando a glória de Deus. O Omnisciente Senhor é quem sabe o que é melhor para cada um e os nossos pedidos devem submeter-se à sua sabedoria infinita. Daí uma total conformidade com a Sua vontade santíssima. Não se deve solicitar ao Criador graças segundo os critérios mesquinhos dos gostos pessoais, dos caprichos próprios. Entretanto, quando o Omnipotente julga não dever atender algum pedido específico, ainda que plausível, é certo que concederá, contudo, maiores dons do que os que foram relacionados numa visão meramente humana. Uma óptima prece é solicitar a Deus que, com Sua ciência e omnipotência, ‘tudo guie, governe e assista nas precisões da alma e do corpo, abençoando as ocupações diárias, os negócios, seja na prosperidade, seja na adversidade, na saúde e na doença, nas provações interiores e exteriores.’

O orante deve cumprir ‘uma atenção especial na oração’, isto é, ‘a aplicação da mente naquilo que se fala com Cristo’. À atenção opõem-se, muitas vezes, as distracções, que devem ser pronta e energicamente afastadas, porque ‘distracções deliberadas são uma falta de respeito a Deus’. O Salvador dá uma audiência ‘especial’ ao fiel, mas ‘exige’ que se trate com Ele, de uma maneira digna, os ‘contratos’ importantes da própria perfeição espiritual e temporal. Nas orações verbais a atenção deve ser centrada no conteúdo, procurando pronunciar as palavras paulatinamente, sem esquecer a atenção espiritual ou mística, estando o pensamento elevado para o Ser Supremo. É colocar todo o cuidado, todo o esforço, toda a mente, todo o coração e forças interiores para fazer, com a devida atenção, as preces para que não se receba a reprimenda de Jesus: "Este povo somente me honra com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim" (Mt 15,8). Detectada uma distracção, esta deve ser, calmamente, repelida, pois Deus sabe que foi uma fraqueza própria do ser humano e não uma ofensa a Ele. Ajuda a atenção na oração o recolhimento dos sentidos, da imaginação e demais potências. Deixar de lado as preocupações e negócios externos, mas colocar-se com fé na presença de Deus.

 A tudo isto acrescente-se a humildade. O fiel é mendigo da bondade e misericórdia divinas e deve orar como o publicano e não como o fariseu da parábola que Jesus narrou: "O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador! "Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado" (Lc 18, 11-14). A prece deve ser também com confiança: "Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno" (Hb 4,16).

É preciso ainda sinceridade: "O Senhor aproxima-se dos que O invocam, daqueles que O invocam com sinceridade" (Sl 144,18). É necessária a perseverança recomendada por Jesus diversas vezes, como ao narrar a parábola do Juiz a quem tanto uma viúva insistia para que se lhe fizesse justiça que a acabou atendendo. São Lucas mostrou bem a intenção do Mestre divino: “parábola sobre o dever de eles orarem sempre, sem desfalecer” (Lc 18,1 e ss). Infalivelmente, quem orar assim salvar-se-á.

 AA

© 2008 Todos os direitos reservados.

Crie o seu site grátisWebnode