Confrarias

 

As Confrarias da Paróquia da Carapinheira

 

As confrarias (Irmandades) são associações de pessoas piedosas que se comprometem a realizar em comum certas práticas religiosas ou de caridade, tendo por finalidade orgânica o incremento do culto público (1).

 Estas associações de crentes preconizavam, essencialmente, a salvação da alma e o acrescentamento da fé e da devoção. O seu principal exercício consistia na aplicação dos preceitos da caridade cristã, através da prestação de assistência aos confrades doentes e idosos e ainda no acompanhamento dos defuntos à sepultura.

Ao reunirem a maioria da comunidade em que se inseriam, num projecto de inter-ajuda para os problemas do dia a dia, numa união de sociabilidade, com a participação de todos, nos festejos e ritos para a celebração dos oragos, e dando à luta pela salvação da alma uma dimensão comunitária, favoreceram a intervenção dos leigos numa Igreja que se pretendia cada vez mais forte e actuante.

Porque na Idade Média muitas confrarias se instituíram sem o reconhecimento da Igreja, o que deu lugar a abusos, esta viu-se na necessidade de intervir e pôr ordem na regulamentação destas associações de fiéis, fazendo observar as normas canónicas entretanto estabelecidas em 1595, após o concílio tridentino (2). Assim, estas instituições, que não podem existir sem decreto formal de erecção e fora das igrejas ou capelas, passaram a regular-se pelas normas estabelecidas na Constituição de Clemente VIII (1604) e de Paulo V (1610) e para a sua fundação é necessário o consentimento da Igreja, a quem cabe examinar os seus estatutos e dar-lhes ou não a sua aprovação.

Depois de um período de decadência, uns vinte anos atrás as confrarias voltaram a adquirir força; actualizaram-se de acordo com as directrizes pastorais do Concílio Vaticano II e hoje são organizações vivas, cheias de jovens e com um profundo sentido social de ajuda mútua e actuação entre os menos favorecidos da sociedade, recuperando assim suas raízes e razão de ser.

O fervor religioso na constituição de confrarias também chegou aos carapinheirenses do passado, gente de grande vivência cristã, ao considerarem a necessidade duma instituição deste género para que pudessem desenvolver, na sua terra, um conjunto de actividades religiosas e de solidariedade plenamente integradas na organização paroquial. Foi assim que fundaram três confrarias: a das Almas, organizada em 1724, data do seu primeiro compromisso; a do Santíssimo, cujo compromisso é de 1733, mas que – no mesmo se regista – “desde tempos imemoriais se tem governado sem ele”, e a da Nossa Senhora do Rosário que foi instituída em 1743. São heranças de um inegável valor patrimonial, tanto de âmbito religioso como cultural, que os carapinheirenses da segunda, terceira e quarta décadas do século XVIII deixaram aos vindouros, e que ainda hoje se mantêm em plena observância dos princípios fundamentais que estão na base da sua constituição, o que não deixa de ser motivo de regozijo para todos os carapinheirenses que amam a sua terra e para quem a preservação das tradições constitui uma preocupação de índole cultural. A importância destas Irmandades, nas suas componentes religiosa e social, merecem, sem esquecer o seu grande valor patrimonial, que a sua história seja conhecida, de modo especial no que se refere às circunstâncias que rodearam a sua instituição, e as mantêm em plena actividade.

 

 

 

(1) Existem também confrarias de outra natureza, formadas por grupos de pessoas ligadas por interesses comuns, designadamente de âmbito económico, cultural ou social. Curiosamente, até os mendigos em Lisboa, no século XVI, se encontravam reunidos em confrarias, como a de Santo Aleixo e a do Menino Jesus, às quais eram concedidos alguns privilégios.

(2) Face à perturbação desencadeada na Igreja pelas teorias de Lutero, o Papa Paulo III convocou este concílio ecuménico para a cidade italiana de Trento. Sendo o décimo nono concílio da história, os seus trabalhos foram iniciados em 1545 e terminados em 1563.

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