Almas Santas
O Cantar às Almas Santas é uma tradição muito antiga na Carapinheira, assim para manter esta velhinha tradição, todos os anos um grupo de aproximadamente vinte homens, de diferentes idades, reúne-se para visitar todas as casas da nossa terra durante as noites da Quaresma cantando e rezando em sufrágio dos familiares e vizinhos desaparecidos. Mas como é lógico o número de elementos deste grupo oscila de noite para noite, pois alguns tem outros afazeres em determinadas noites e não podem dar o seu contributo nessa noite, já que a Quaresma ainda á longa, pois vai da quarta-feira de cinzas à quinta-feira da Semana Santa, e cada um tem de continuar a cumprir com as suas obrigações.
O ritual repete-se casa a casa: um dos elementos faz soar a campainha, não a do dono da casa, mas sim uma que ele próprio transporta, e pergunta: “Tem devoção de dar a esmola para as benditas Almas Santas?”; aguarda a resposta do dono da casa e ao “sim” deste, faz uma nova pergunta: "Quer que cante ou que reze?".
Consoante a resposta obtida assim o grupo fará. Se mandar cantar, o grupo, previamente dividido em dois subgrupos, de acordo com as capacidades vocais de cada um, formam duas rodas, e cantam algumas das cerca de três dezenas de quadras que lembram os martírios do Senhor e a situação das almas que esperam redenção, entramelando pelo meio um Pai Nosso e uma Ave-Maria, recebendo no final o óbulo entendido conveniente pelo dono da casa.
Se mandar rezar, o grupo recita três Pai Nossos, três Ave-Marias e uma pequena oração, sendo então "recompensado" com a esmola para as benditas Almas Santas. Os montantes angariados nesta missão destinam-se ao pagamento de missas de sufrágio por todas as Almas do Purgatório.
Além deste ritual, e para não deixar esquecer que os nossos antecessores precisam de ser sufragados, os sinos da Igreja todas as noites dobram, e fazem como que um apelo comovente à oração, pois as suas últimas nove badaladas indicam que todos devem rezar um Pai Nosso e uma Avé Maria. Isto porque a Quaresma é um período de privações, penitências, reflexão, adoração e também de trazer à mente (amentar) todos aqueles que já partiram.
Este ritual ainda hoje é realizado em muitas terras pelo nosso Portugal fora, nuns locais de uma forma, noutros doutra, mas a finalidade é sempre a mesma. No Concelho de Montemor-o-Velho existem diversos grupos que efectuam este ritual, assim a Câmara Municipal habitualmente organiza todos os anos um encontro de Grupos de Cantar às Almas do Concelho. Neste encontro pode-se apreciar as diversas posturas, os diferentes textos dos cânticos, o tom monocórdico da voz, o negro da noite e o eco do silêncio que criam uma atmosfera sombria que desperta as almas. De salientar que olhando para esta pequena amostra do nosso país se encontram logo muitas diferenças. O nosso grupo é composto por homens, enquanto que alguns são constituídos apenas por mulheres, mas existem outros que são mistos. Também a forma de cantar e os próprios textos são bastante diferentes.